O rolex de Luciano Hulk

O apresentador Luciano Huck publicou, na segunda-feira da semana passada, primeiro de outubro, no painel de “Tendências/Debates” da Folha de S. Paulo, um artigo revoltado sobre ter sido vítima de um assalto numa rua dos Jardins . Dois assaltantes de moto levaram seu relógio, um rolex. Apontaram-lhe um revólver de calibre 38.
Luciano deu total importancia a si e ao evento, afirmando que, caso levasse as balas na cabeça, deixaria “Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio”. Em outras passagens da reportagem, ainda diz que para combater a violência e a criminalidade que tomam o país, seria necessária a ação da fictícia "Tropa de Elite".
O escritor e rapper Ferréz, morador do violento bairro do Capão Redondo, escreveu então um artigo que gerou muita polêmica, mostrando a visão humana do assaltante perante ao país em que vivemos e as condições as quais somos submetidos. Em seu texto, Ferréz conclui afirmando o seguinte: “No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o assaltante ficou com o relógio”.
Hulk não sugere em momento algum os meios humanitários de combater a criminalidade no país. Na reportagem, defende apenas a tese de que é necesário impor violência contra violência para por um ponto final nessa situação delicada em que o Brasil se encontra. No entanto, tenho certeza de que o apresentador da maior rede de televisão brasileira nao parou para pensar que o relógio que lhe foi roubado, poderia garantir a pelo menos uma pessoa condições de vida muito melhores.
A partir desse pensamento, chego a conclusã de que a desigualdade social no país é o maior mal que nele existe. Só há ricos porque existem também os pobres. Não se trata de fazer apologia ao crime, mas de colocar as coisas no seu devido lugar. Não duvido da competência profissional de Huck, assim como não vejo motivos para a desproporção de seu salário em relação ao de um bom professor, por exemplo.
O transtorno em relação Rolex não foi justo, como afirmou Ferréz. Porém as dimensões da situação vão muito além disso. Vivemos em um sistema injusto, sendo assim, não é aceitável que alguém seja sentenciado por não ter outra saída, senão, cometer crimes para sobreviver. Assim como não é possível tolerar que vidas sejam colocadas em risco por conta disso.
No momento em que nosso governo realmente se empenhar para que seja estabelecida uma maior igualdade social (não digo total), poderemos sentenciar um ladrão sem pensar no outro lado das coisas.


Rafael Falcão